Nessa ordem confortante das coisas, natural que empresas também queiram se situar no mundo.
Não no colo insuficiente de um cep, mas no regaço receptivo de uma cidade maravilhosa.
Sendo a Piraquê a empresa e sendo o Rio de Janeiro a sua origem, quem sabe não possa ter sido o amor a massa e o calor carioca o forno? A Piraquê veio à luz num parto solar, ondas do mar em contração, a paisagem dilatando espaço - e eis a fábrica. Fermenta e cresce, Piraquê (Ah, se o endereço falasse!).
Trabalho foi a primeira palavra, o primeiro passo entusiasmo, o sucesso já nos primeiros tempos.
E assim, com ou sem trocadilho, se assaram os anos: a Piraquê alimentando o Rio, o Rio devorando a Piraquê, ele dando a maior força, ela esforçada por ele. Na troca de energias, a Piraquê cercou o Rio de oferendas; o Rio rodeou a Piraquê de gente, gente, gente. Gente gentil. Depois de décadas deliciosas, uma nos braços do outro, as bodas de ouro pelas orlas douradas. Uma história longa para se orgulhar, e muito mais orgulho há de vir.
É a Piraquê amando esse Rio amável - pelo menos é assim que a Piraquê, com porta-vozes humanos, pode dizer que se sente -, esse Rio que exclamo!"
A propaganda aqui é gratuita e mais do que agradecida pelo texto cheio de gingado que, por um instante, faz o peito estufar de orgulho e resgatar a auto-estima que todos nós, cariocas, perdemos em meio a tanto desgoverno e bala perdida.
No site da Piraquê, há uma seção inteira dedicada ao Rio, com textos tão deliciosos quanto esse e um profundo respeito a essa cidade resistentemente maravilhosa. Um respeito que aqueles que almejam governá-la não demonstram.
Toda manhã, o meu trajeto para o trabalho até o centro da cidade é feito em uma sucessão de cartões postais. O morro Dois Irmãos ao fundo... O Cristo Redentor à minha esquerda, abençoando a passagem... O mar à direita e um tema de canção atrás do outro: Leblon, Ipanema, Arpoador, a Princesinha do Mar... Uma curva à esquerda, uma reta e, de repente, o Pão de Açúcar ali à frente e as embarcações descansando na Enseada de Botafogo... O Aterro do Flamengo e seus corredores matinais, ciclistas, carrinhos de bebê, cachorros... O Outeiro da Glória... O Monumento aos Pracinhas (e do outro lado, lá afastado, o Teatro Municipal)... O MAM... O Santos Dumont...
E, no meio de tanta obra-prima da natureza e da arquitetura, aquelas irritantes faixas e plaquinhas de candidatos, interferências de mau gosto e, o que é pior, de mau agouro do que ainda teremos que enfrentar. Quando penso que terei que encarar aquela urna eletrônica, minha vontade é cortar os pulsos.
2 comentários:
A poluição política é uma desgraça da democracia. O pior é que depois das eleições não tiram e eterniza-se com uma desactualização por vezes desconcertante. Tb. é assim aí ou há regras para retirar?
Delícia seu texto, Andréa! Infelizmente onde há tanta beleza, dádivas da natureza, como em nossas cidades, temos que conviver que esta praga terrível que "emporcalha" o ambiente urbano, a propaganda política. Na maioria delas, "propaganda enganosa".
Fui ao site da Piraquê e me fartei do belo conteúdo.
Abraço.
Ery Roberto
www.infinitopositivo.blogger.com.br
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