"Cena 1: a pequena plataforma
sustenta meus pés.
Cena 2: expectativa. Grande distância
para alcançar o trapézio.
Mas alguém, em breve, do outro lado,
o lançará em minha direção.
Cena 3: Preparativos para o salto. Um passo à frente.
Vento leve. A coragem para o voo. Impulso.
Cena 4: Mergulho. Corpo no ar. Pés sem chão.
Minhas mãos se abrem à espera do encontro.
Cena 5: O trapézio não me é jogado.
Instante de angústia. Desequilíbrio na respiração.
Cambalhota desengonçada no espaço.
A elegância do salto espelhando
a deselegância do tombo.
Cena 6: Alguém, por motivos desconhecidos,
manteve o trapézio nas mãos.
Por amadorismo, esqueceu que existe
apenas um único momento-exato
para que tudo saia perfeito.
Por indelicadeza, não me deixou receber
um aplauso que era meu.
Por temer a altura, reteve consigo a salvação.
Cena 7: a rede ameniza a dor."
Jacinto Fabio Corrêa
São tantos os poemas do Jacinto que amo que já não sei mais se o Trapezista é o meu preferido, mas ele talvez seja o que ainda fale mais alto na minha história.
* Achei a foto aqui.
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