
Ela ainda está aqui, mas os pensamentos agora passeiam por mundos desconhecidos para mim. Há mais de um mês, ela decidiu, sem nos consultar, dormir. Talvez por achar que já viu tudo o que tinha para ver por aqui, ou talvez por supor que ainda há muito mais para conhecer em lugares onde só os sonhos nos levam.
Por onde ela viaja agora em seu retiro de bela adormecida é um mistério, mas as transformações que ela vai operando em mim vão se revelando a cada momento dessa despedida silenciosa. É uma necessidade de mudar o curso de uma história que por inércia deixei ser traçada pela correnteza que foi me arrastando para caminhos muito distantes do que eu queria para mim.
Como eu vou fazer para vencer a correnteza ainda não sei, mas perder o medo de nadar já é um começo. Essa é a minha forma de agradecê-la por esses 90 anos de um amor que vai ser eterno.