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domingo, 22 de maio de 2011

Trapezista


"Cena 1: a pequena plataforma
sustenta meus pés.

Cena 2: expectativa. Grande distância
para alcançar o trapézio.
Mas alguém, em breve, do outro lado,
o lançará em minha direção.

Cena 3: Preparativos para o salto. Um passo à frente.
Vento leve. A coragem para o voo. Impulso.

Cena 4: Mergulho. Corpo no ar. Pés sem chão.
Minhas mãos se abrem à espera do encontro.

Cena 5: O trapézio não me é jogado.
Instante de angústia. Desequilíbrio na respiração.
Cambalhota desengonçada no espaço.
A elegância do salto espelhando
a deselegância do tombo.

Cena 6: Alguém, por motivos desconhecidos,
manteve o trapézio nas mãos.
Por amadorismo, esqueceu que existe
apenas um único momento-exato
para que tudo saia perfeito.
Por indelicadeza, não me deixou receber
um aplauso que era meu.
Por temer a altura, reteve consigo a salvação.

Cena 7: a rede ameniza a dor."
Jacinto Fabio Corrêa

São tantos os poemas do Jacinto que amo que já não sei mais se o Trapezista é o meu preferido, mas ele talvez seja o que ainda fale mais alto na minha história.

* Achei a foto aqui.

sábado, 17 de abril de 2010

Poesia na veia


Um item must have na biblioteca de quem gosta de poesia é o livro Silenciário, que o poeta, jornalista e publicitário Jacinto Fábio Corrêa lança no dia 19 de abril, a partir das 18 horas, na Casa de Cultura Laura Alvim. Silenciário é o décimo livro de Jacinto e, assim como suas demais obras, foi feito de forma artesanal. Como eu sou fã de carteirinha dele e, portanto, suspeita para falar, vá lá no JB Online saber os detalhes do livro e confira de perto o lançamento na segunda-feira.

domingo, 1 de novembro de 2009

Para o bem da ordem das coisas estabelecidas


"À Andréa Blois

Fico imaginando como seria um encontro entre a sua avó e a minha. Trocariam receitas e pontos de croché, como duas senhoras pacatas? Acho que não. Mais provável disputarem quem possuía o neto mais bonito ou quem tinha mais história para contar.

Fico imaginando o que essas duas velhinhas realmente aprontariam caso se conhecessem. Inventariam um novo tempero? um novo céu? um novo mar? um novo homem? Para o bem da ordem das coisas estabelecidas, acho bom Deus acordar mais cedo todos os dias e não perder vista, nos arredores de seus domínios, essas duas mulheres que fizeram do tempo um mero corredor entre a última porta e a primeira passagem.

Jacinto Fabio Corrêa
2 de outubro de 2009"


O poema acima foi escrito pelo meu irmão-amigo-confidente-poeta querido Jacinto Corrêa no dia do enterro da minha avó, um carinho sem igual que nunca será esquecido. Assim como eu, a ligação dele com sua avó foi fortíssima e fundamental em sua formação. Com certeza, as duas estão agora nos arredores do Céu dando trabalho para Deus, tentando fazer as coisas se arrumarem de seus jeitos, e, claro, ainda numa discussão sem fim sobre quem tem o neto mais bonito e inteligente.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Salve Sebastião

Hoje é dia de São Sebastião, o santo que deu nome a essa cidade liiinda onde nasci e vivo por opção e paixão. Ele é o nosso padroeiro e eu desconfio que esse privilégio deve ter lhe rendido muita inveja nos reinos do Céu. Para homenageá-lo, pego emprestadas as palavras do meu amigo Jacinto Corrêa, no poema Oratório, do livro Poemas Simples.

Oratório

"A mesma sensualidade cristã
O mesmo corpo reverenciado por fiéis e ateus
A mesma pele suavemente colorida de branco
Os mesmos olhos que parecem conhecer os desejos de Deus.
É verdade que não tem flechas
nem provoca pedidos de cura e graça
Também não carrega milagres sob o curto manto
ou pode atender às promessas e novenas dedicadas.
Mas o homem que hoje comunga comigo
reencarnado por tanta beleza
é São Sebastião
a quem nunca rezei
a quem sempre quis
a quem finalmente me dou
de corpo, alma e poesia."

domingo, 28 de setembro de 2008

Hoje tem poesia na tevê

Vai ao ar hoje, às 21 horas, o especial de TV "Um diário para dois", produzido pela TV UniverCidade (canal 16 da NET), com trechos do último recital do poeta Jacinto Corrêa e entrevistas feitas com ele e com pessoas ligadas a seu trabalho. O programa, com uma hora de duração, será reprisado amanhã (segunda-feira), às 16h; na quarta-feira (dia 1 de outubro), às 20h; e na sexta-feira (dia 3 de outubro), às 20h e 23h30m. Nada como uma dose de poesia na veia para encarar mais uma semana de labuta!
* Foto: Erik Barros Pinto

domingo, 20 de julho de 2008

Aos meus amigos

Para marcar esse dia, dedico a todos os meus amigos - aqueles de todos os dias, os que quase nunca vejo e os que ainda nem conheço pessoalmente, mas que me visitam aqui sempre - esse poema do meu amigo-poeta Jacinto Corrêa.

"Sobreviventes

Envelhecemos sem remorsos a cada dia.
Olho o que fomos e honro a nitidez das fotografias.
Reconheço os passos no mapa das considerações
e lembro onde os filhos foram entregues ao tempo.
Plena a verdade de que ficaram os cheiros
curtidos em vinhos que já não se fabricam
guardados nos potes de ouro maciço das lembranças.
Enfrento os velhos ventos do frio
ainda de mãos nos bolsos mas agora livres
a rescreverem letra por letra da história esculpida.
Não faltaram palavras de consolo ou fé
tudo foi dito ou abandonado na hora devida
e os degraus construídos sob as ordens do acaso.
Piso as folhas das árvores que conhecemos:
o barulho de vida pulsante me faz rir com prazer.
Provo a sabedoria de tanto saber o nada de todo dia
e a felicidade suprema de atingir a cor de não morrer.
Somos as chaves do que vinga e não pede vitrine
quer apenas descortinar a próxima curva.
O orgulho de não temer o realizado
O sabor de requentar a esperança
dons que soubemos viver sem prejudicar o andamento do mundo.
Sobreviventes de nossas próprias alegrias e limites
hoje comungamos o mérito da permanência.
Se existisse, o arrependimento daria lugar ao agradecimento."