domingo, 27 de setembro de 2009

Por mais 90 anos

Minha avó faz hoje 90 anos, mas já não sabe mais disso. Ela gostava de celebrar cada aniversário. Começava a fazer os planos da comemoração e a reservar seu lugar na agenda de todos com um mês de antecedência. Dizia que tinha que festejar porque não sabia se no ano seguinte ainda estaria aqui.
Ela ainda está aqui, mas os pensamentos agora passeiam por mundos desconhecidos para mim. Há mais de um mês, ela decidiu, sem nos consultar, dormir. Talvez por achar que já viu tudo o que tinha para ver por aqui, ou talvez por supor que ainda há muito mais para conhecer em lugares onde só os sonhos nos levam.
Por onde ela viaja agora em seu retiro de bela adormecida é um mistério, mas as transformações que ela vai operando em mim vão se revelando a cada momento dessa despedida silenciosa. É uma necessidade de mudar o curso de uma história que por inércia deixei ser traçada pela correnteza que foi me arrastando para caminhos muito distantes do que eu queria para mim.
Como eu vou fazer para vencer a correnteza ainda não sei, mas perder o medo de nadar já é um começo. Essa é a minha forma de agradecê-la por esses 90 anos de um amor que vai ser eterno.

2 comentários:

Unknown disse...

Andrea,
muito bonito e ao mesmo tempo raro,esse amor imenso que você tem pela sua vó.
Parabéns!!!
Bjs

Lu disse...

Crescemos temendo a despedida das pessoas que nos são importantes e nos culpando pela insistência da vida em nos roubar um contato maior, uma visita a mais, um outro telefonema.

Não sei se a culpa é da cultura ocidental ou da tradição judaico-cristã - mas a verdade é que isso não importa muito. Egoístas que somos, necessitamos da presença, do toque, da voz das pessoas. E nos esquecemos de que estamos indissoluvelmente ligados aos familiares por um amor que não é terreno e, portanto, não acaba neste plano, nesta existência. Aliás, não acaba.

Há muito ainda por vir, tenha fé. E libere-a para seguir o seu caminho e a sua evolução espiritual com a certeza de que vocês se encontrarão novamente. Antes disso, certifique-se de ter dito tudo o que o seu coração dá por pendente - ela pode te ouvir. Agradeça por tudo o que ela te ensinou e continua ensinando ainda hoje, e seja profundamente grata à existência dela, que permitiu que hoje você estivesse aqui.

Às vezes, alguns assuntos são difíceis e fugimos deles de todas as maneiras. Tenho evitado perguntas porque, de alguma maneira, a sua história remete à minha e a saudade é esse bichinho que fica perambulando pelo coração. Mas tenho rezado por vocês e pedido que Deus dê força e compreensão para as coisas que não sabemos aceitar.